O estudo será realizado em parceria com a Universidade de Manchester (Reino Unido) e terá um financiamento de R$ 7 milhões de reais
Uma parceria entre a Universidade de Taubaté (UNITAU) e a Universidade de Manchester (Reino Unido) vai permitir o desenvolvimento de uma pesquisa sobre as alterações climáticas na Amazônia e sua relação com o transporte de umidade para a região sul e sudeste do continente sul-americano por meio dos chamados “rios aéreos”.
A proposta de pesquisa foi aprovada em fevereiro deste ano e também vai contar com a participação de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Pelo lado britânico, além da Universidade de Manchester, haverá o envolvimento do UK Met Office (Serviço Meteorológico Britânico, responsável pela previsão do tempo e clima). O projeto de pesquisa está em fase de implementação e deve ser executado em quatro anos.
O financiamento virá do Natural Environmental Research Council (NERC), uma agência de fomento na área científica do Reino Unido. O valor dessa pesquisa é da ordem de 1 milhão de libras esterlinas, correspondendo a quase R$ 7 milhões.
Na linha de frente dos estudos por parte da UNITAU está o Prof. Dr. Gilberto Fisch, meteorologista de formação, com 40 anos de experiência e boa parte deles dedicada a temas relativos à Amazônia. O Prof. Fisch integra a equipe de docentes dos programas de Mestrado acadêmico e profissional em Ciências Ambientais da UNITAU, sendo que sua área de atuação é em ciências atmosféricas e mudanças climáticas.
“Vamos estudar como ocorre o desmatamento na região amazônica, as interferências que isso provoca no clima local, regional e global. Também queremos observar os efeitos desse impacto nos ‘rios aéreos’, que são responsáveis pelo transporte de umidade da Amazônia, e sua influência no ciclo hidrológico da região do Vale do Paraíba”, afirma o Prof. Fisch.
“Rios aéreos” ou “rios voadores” são enormes massas de água originadas por um processo denominado evapotranspiração e que circulam a partir da Amazônia com dispersão concentrada nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e o Sul do Brasil. Toda essa água proveniente das chuvas é bombeada pelas árvores da Floresta Amazônica e retorna para a atmosfera em forma de umidade.
Para o pesquisador, as consequências dos avanços nos processos de desmatamento da Amazônia ultrapassam as fronteiras locais e trazem impactos diretos ao continente.
Segundo o Prof. Fisch, a pesquisa vai contar com a coleta de dados, análise de imagens de satélites e a projeção de cenários climáticos de médio e longo prazos por meio de modelagens atmosféricas.
O geógrafo formado na UNITAU, Mestre em Recursos Hídricos pela UNIFEI e atualmente aluno de doutorado do INPE, Murilo Ruv, é ex-aluno de graduação do Prof. Fisch. Ele desenvolve atualmente seu doutorado em Pós-Graduação em ciências do sistema terrestre no INPE, sob orientação do Dr. Gilvan Sampaio. Murilo utiliza o supercomputador Tupã em seu trabalho em modelagem climática.
“Por meio do modelo atmosférico brasileiro (BAM), criado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC-INPE), avalio a influência do aumento da temperatura global, bem como o processo de conversão da floresta em pasto, a fim de observar quais são os efeitos no clima da América do Sul. Uma simulação importante é quando chegamos a um índice de desmatamento de 40%, que é denominado tipping point (ponto de inflexão). A partir daí, não é mais possível uma recuperação natural da floresta e seus efeitos passam a ser mais significativos”.
Murilo também faz comparativos entre indicadores obtidos durante longos períodos de tempo, denominados de clima básico, em um intervalo de 30 anos, por exemplo. “Usamos como referência o período entre 1981 e 2010. A partir desses 30 anos que caracterizam a climatologia, pego os próximos 30 anos e começo a calcular a evolução da atmosfera, especificamente o aumento gradual da temperatura do ar. A maioria dos experimentos indicam um aumento 2ºC na temperatura média global já nas próximas décadas (2030/40/50). O Acordo de Paris, assinado em 2015 por quase 200 países do mundo, era para limitar o aumento de 1,5ºC, mas já sabemos que vai passar disso”.
A recente reunião “Cúpula do clima”, realizada no final de abril de 2021, discutiu exatamente este ponto, e os líderes mundiais apresentaram seus esforços para isso. Além do supercomputador Tupã, os pesquisadores também devem contar com um reforço de peso: o suporte dos equipamentos do Met Office. Para se ter uma ideia, o serviço britânico possui atualmente um sistema de supercomputação chamado Cray XC40, cerca de 15 vezes mais potente em termos de cálculo, com 6 vezes mais espaço de armazenamento que o Tupã e capaz de realizar mais de 14.000 trilhões de cálculos por segundo. E a partir de 2022 deve entrar em operação uma versão ainda mais avançada deste supercomputador, graças a uma parceria firmada com a Microsoft.