AIMES-SP

Mulheres que inspiram e suas contribuições para o avanço da ciência

Isaac Newton, Albert Einstein e Galileu Galilei são nomes facilmente relacionados à palavra “cientista”, no entanto, ao longo da história, diversas mulheres demonstraram um papel fundamental para a ciência, ainda que, muitas vezes, não tenham sido reconhecidas. A polonesa Marie Curie (1867 – 1934), por exemplo, constatou a existência do polônio e do rádio. Ela não foi somente a primeira mulher com um Prêmio Nobel, mas também a primeira pessoa a receber duas vezes a premiação, o Nobel de Física e o de Química. Outras histórias como a de Marie também trouxeram muitas novidades para o mundo. A inglesa Ada Lovelace (1815 – 1852) desenvolveu o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina e foi considerada a primeira programadora da história. Já a francesa Françoise Barré-Sinoussi descobriu o vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Em uma época de uma grande epidemia de AIDS, sua descoberta foi crucial, pois possibilitou o conhecimento do agente transmissor, o que trouxe um avanço no desenvolvimento de métodos para o combate à doença. Tantos outros nomes promoveram um avanço na ciência. Algumas mulheres mais experientes em relação à idade, como Gertrude Bell Elion, ou mais novas, como Malala Yousafzai, a mais jovem a receber o prêmio Nobel por seu ativismo em prol do acesso de crianças e mulheres à educação. No Brasil, Sônia Guimarães foi a primeira mulher negra doutora em física. Ela, que é especialista em propriedade eletróticas de ligas semicondutoras crescidas epitaxialmente (conhecimento essencial para o desenvolvimento de tecnologia), faz parte do corpo docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Para fortalecer a excelência das mulheres na ciência e reforçar que a ciência e a igualdade de gênero devem avançar lado a lado, em 2015, o dia 11 de fevereiro foi estabelecido como o Dia internacional das mulheres e meninas na ciência. De acordo com uma pesquisa do Semesp, dos alunos que frequentam cursos de especialização de nível superior, a maioria pertence ao sexo feminino. Em 2021, na graduação, elas representam 57,4% das matrículas, enquanto na pós-graduação lato sensu, 66,9%. “As mulheres foram encontrando na educação o caminho para lutar de uma maneira mais consistente e fundamentada. Uma vez que, dentro do sistema de educação, amplia-se a compreensão da necessidade da formação continuada, de se manter dentro e não mais somente como alguém que amplia seu conhecimento como também de alguém que pode produzir conhecimento”, explica o filósofo Prof. Dr. Cesar Augusto Eugenio, da Universidade de Taubaté (UNITAU). O Doutor em Educação explica que as mulheres estão em busca desse espaço de produção de conhecimento. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres pesquisadoras e cientistas representam apenas 28% em comparação aos homens. O prêmio Nobel (concedido para aqueles que, durante o ano anterior, tenham conferido o maior benefício à humanidade, nas categorias de Medicina, Física, Química, Literatura, Paz e Economia), entre 1901 e 2021, de 947 pessoas e 28 organizações premiados, apenas 58 são mulheres. Um dos motivos para essas porcentagens pode estar relacionado ao baixo incentivo da inserção das mulheres na ciência. O estudo realizado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, aponta que 9 a cada 10 meninas associam engenharia com habilidades tidas como masculinas. Existe uma dificuldade em identificar as disciplinas conhecidas como STEM (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e em aplicar os conhecimentos da escola na profissão. Por isso, alguns associam a ciência a experiências em laboratório. Para incentivar a inserção das mulheres na ciência, a UNITAU, em parceira com a Universidade de Manchester, inicia um projeto de pesquisa sobre a representatividade delas na ciência. A Profa. Dra. Miroslava Hamzagic Zaratin, responsável pela pesquisa, explica que o objetivo é estimular os jovens, igualmente, na produção de tecnologia. A professora atua há 40 anos na área de engenharia e, de acordo com ela, ainda é conhecida como uma área muito masculina. “As mulheres têm representatividade, porém, na engenharia, temos um pouco de dificuldade de entrar na área e nela permanecer. O conhecimento dado promove a possibilidade dessa permanência, portanto temos de dar autonomia no conhecimento da matemática e acesso de forma igualitária”, explica. As próximas etapas para o desenvolvimento da pesquisa é realizar uma reunião com a diretoria de ensino e, posteriormente, com os professores do mestrado em educação. Além disso, a professora exemplifica que os alunos do mestrado, por exemplo, poderão desenvolver trabalhos relacionados à pesquisa. “A expectativa é trazer o entendimento do que significa a ciência, explicar em escolas o que é a engenharia e estimular que os jovens invistam em tecnologia”, pontua. Refletir sobre a importância das mulheres na ciência nesta data e em todos os demais dias é sinônimo da busca por uma comunidade equitativa, justa, tolerante e a construção de uma sociedade melhor. O Professor César ainda explica que “não se trata de uma luta contra os homens, se trata de uma luta contra o machismo estrutural que ainda impede que a nossa sociedade cresça, se humanize e seja mais tolerante”.

Datas marcam combate ao racismo e celebram a cultura afro-brasileira

O dia 18 de novembro nos relembra a importância das discussões e de ações relacionadas à discriminação racial no Brasil. O dia nacional de combate ao racismo também celebra a cultura afro-brasileira e os avanços na luta do povo negro contra a desigualdade. Já em 20 de novembro, temos o dia nacional da consciência negra, que coincide com a morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi foi o maior líder do Quilombo dos Palmares. Essas comunidades, instaladas em locais de difícil acesso, eram formadas por escravos que fugiam dos seus senhores. Estima-se que o Quilombo dos Palmares durou cerca de 100 anos e abrigou entre 20 e 30 mil habitantes, sendo o maior e mais duradouro quilombo registrado. A Profa. Dra. Maria Fátima de Melo Toledo é docente no curso de História da Universidade de Taubaté (UNITAU). Ela atua no ramo de pesquisas históricas, principalmente na área de História do Brasil Colonial e leciona a disciplina História da África. A historiadora conta que, com a morte de Zumbi dos Palmares, ele se tornou um grande símbolo da resistência negra do Brasil.  A data de sua morte passou a ser um dia de memória da história dos africanos e afrodescendentes no país. “Essa data não deveria ser importante só para as comunidades negras, mas para todos os brasileiros. O dia da consciência negra é um dia para tomar consciência da condição histórica imposta aos homens e mulheres negros no Brasil e não nos esquecermos disso”, argumenta. A historiadora complementa que é muito importante relembrar essa data, porque ainda hoje são perceptíveis as desigualdades sociais e econômicas entre negros e brancos no Brasil. “Essa data é um elemento a mais nisso tudo. O que pode auxiliar de fato no combate ao racismo é a criação de políticas públicas nas mais diferentes áreas, especialmente na educação, que incorporem uma série de discussões que passam pela questão étnico-racial”, pontua. Em 2003, foi sancionada a lei 10639/03, que alterou a lei de Diretrizes e bases da educação e tornou obrigatória a presença da temática “História e cultura afro-brasileira e africana’ nas escolas. “Esse decreto foi um grande avanço, a iniciativa do estado foi fantástica. O grande problema é que, de uns anos para cá, tudo isso foi desmantelado, toda uma estrutura criada para combater oficialmente a discriminação racial foi deixada de lado”, diz. Uma iniciativa da aluna Victoria Souza Pereira, do décimo semestre do curso de Psicologia, promoveu, em maio deste ano, o combate à discriminação racial dentro da Universidade. O projeto “Sankofa” idealizado pela estudante teve como objetivo oferecer um espaço de interação e de acolhimento entre os alunos negros da Instituição para compartilharem ideias e opiniões. Os encontros online do projeto tiveram sete etapas e discutiram sobre identidade, emancipação da população negra e a importância da união. “Desenvolver projetos como esse dentro das universidades é muito importante pela representatividade e não só existir por existir, mas, sim, por fazer algo concreto, por fazer com que os jovens negros sejam escutados, acolhidos, que sejam vistos pela sua potencialidade e que possam, nesse ambiente ‘hostil’, fazer trocas e percepções para que seja possível a manutenção deles nas universidades”, expõe a futura psicóloga. Durante essas datas comemorativas e até mesmo antes, diversas instituições e profissionais da região do Vale do Paraíba e de todo o Brasil se sensibilizam com a causa e realizam trabalhos e homenagens com essa temática. Esse é o caso do Prof. Dr. Júlio Cesar Voltolini, docente no curso de Biologia da UNITAU e também fotógrafo. O biólogo foi convidado pelo Centro Cultural e Biblioteca Zumbi dos Palmares para organizar a exposição fotográfica “Muhatu”, que ocorreu no dia 13 de novembro. “As fotos retratam três gerações de mulheres que viveram momentos diferentes do Brasil, mas com algo em comum: o preconceito e a falsa igualdade. Dar voz e imagem a elas é um ato de resistência e devemos trabalhar nisso, juntos, desde o início, dentro das escolas”, comenta o professor.