Oncologista e docente da UNITAU alerta sobre riscos do tabagismo durante a pandemia
O tabagismo tem papel de destaque no agravamento da crise do coronavírus, já que pode ser considerado um fator de risco para as formas mais graves, uma vez que fumantes são mais vulneráveis às infecções e às formas de contágio e de transmissão O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. No mercado nacional e internacional, há uma variedade de itens derivados do tabaco, que podem ser consumidos de várias formas. Todos à base de nicotina, que causa dependência e aumenta o risco de contrair doenças crônicas não transmissíveis (DNCT). O 31 de maio é reconhecido como o Dia mundial do combate ao fumo. Criado em 1987 pela Organização mundial da saúde (OMS), tem o intuito de alertar sobre as doenças e as mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. Segundo a Organização pan-americana da saúde (OPAS), o consumo de tabaco e seus derivados é o causador de cerca de 8 milhões de indivíduos por ano. “As preocupações com o tabagismo são contínuas. É uma situação que ocorre nos países em desenvolvimento e nos subdesenvolvidos. São problemas crônicos e, apesar da incidência do tabaco ter diminuído no Brasil consideravelmente nos últimos 20 anos, ainda é uma situação muito presente. Como é uma droga considerada lícita, o tabagismo passa despercebido, fazendo com que se tenha uma ‘vista grossa’ para o grande dano que pode causar para o fumante ou para os que vivem no entorno dele”, comenta o Prof. Dr. Flávio Luiz Lima Salgado, médico especialista em cirurgia oncológica e docente da disciplina de Oncologia da Universidade de Taubaté (UNITAU). O professor ainda esclarece que algumas doenças, além do câncer, podem ser derivadas dessa prática, como doenças vasculares, pulmonares obstrutivas crônicas (asma, bronquite, insuficiência respiratória etc.), que trazem consequências como AVC (acidente vascular cerebral), impotência sexual, aumento no risco de contrair hipertensão, entre outras. O tabagismo e a pandemia De acordo com a OMS, o tabaco mata mais de 7 milhões de fumantes regulares, enquanto cerca de 890 mil correspondem a fumantes passivos, que estiveram expostos à fumaça. Em média, no Brasil, morrem 428 pessoas por dia como consequência da dependência à nicotina, e mais de 156 mil mortes anuais poderiam ser evitadas. A luta contra esse vício se tornou ainda mais complexa quando, em março de 2020, a OMS declarou a pandemia do novo coronavírus, doença responsável por causar infecções respiratórias, que, em sua etapa mais crítica de complicação, há um grave comprometimento da função respiratória, que pode levar ao óbito. O tabagismo tem papel de destaque no agravamento da crise do coronavírus, já que pode ser considerado um fator de risco para as formas mais graves, uma vez que fumantes são mais vulneráveis às infecções e às formas de contágio e de transmissão. Além disso, o tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. “As comorbidades têm no tabaco um grande contribuidor para as doenças pulmonares, para as doenças cardíacas e cardiocirculatórias. Todos nós estamos sujeitos a ter esse problema (Covid-19), mas os pacientes com comorbidades levam desvantagem com relação aos pacientes não fumantes”, ressalta o oncologista. Segundo pesquisa da Fiocruz, 34% dos fumantes brasileiros declararam ter aumentado o número de cigarros fumados durante a pandemia, uma associação da saúde mental dos tabagistas nessa nova realidade, com a piora de quadros de depressão, ansiedade e insônia. “Essa pandemia gerou muitas situações de estresse, então esses aspectos ligados à depressão e à ansiedade contribuem demais para o aumento do tabagismo. Essas pessoas precisam de ajuda profissional, com tratamento e apoio psicológico”, explica o professor. O tratamento No Brasil, O Instituto nacional de câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) é o órgão responsável pelo Programa nacional de controle do tabagismo (PNCT) e pela articulação do tratamento do tabagismo no SUS (Sistema único de saúde). O tratamento inclui avaliação clínica, abordagem mínima ou intensiva, individual ou em grupo e, se necessário, terapia medicamentosa. “O tratamento para parar de fumar leva tempo. Primeiramente, a família precisa colaborar e todos têm de parar juntos. A segunda coisa são os hábitos. Muitas vezes é necessário deixar a bebida alcoólica ou o excesso de café, que são atos que lembram o cigarro. Também é preciso buscar uma alimentação mais natural, comer bastante fruta, tomar bastante água. Atualmente, existem adesivos e outros remédios que procuram substituir essa dependência da nicotina. Inicialmente, eram muito caros, mas hoje esses tratamentos são gratuitos e são feitos pelo SUS”, pontua. O professor ainda menciona que o fumante deve ter um acompanhamento psicológico, se possível. “Esse paciente acaba desenvolvendo problemas com ansiedade, que têm de ser combatidos. Então ele deve, além dos remédios para substituir a dependência da nicotina, fazer terapia e fazer o uso de medicações para reduzir a ansiedade, pelo menos até passar a fase aguda. O apoio emocional para uma recaída é muito importante, e as pessoas também precisam entender que a maioria dos pacientes passa por isso”. Confira o que acontece com o organismo de um fumante, que interrompe o uso do tabaco: Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue. Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza. Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor. Após 2 dias, o olfato já tem os cheiros mais apurados e o paladar já degusta melhor a comida. Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora. Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade. Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram. Busque ajuda! Melhore a sua qualidade de vida! Foto: Leonardo Oliveira